A prescrição de programas de treinamento para diferentes modalidades esportivas requer um amplo conhecimento da especificidade de cada uma delas. Dessa forma, em modalidades coletivas, como o futsal, o conhecimento sobre a composição corporal, bem como sobre os aspectos neuromotores, tem-se revelado imprescindível para a caracterização das exigências específicas desse esporte.
Diversos estudos têm demonstrado que, dentre as variáveis que podem ser avaliadas antropometricamente, as mais relevantes para o desempenho atlético na maioria dos esportes são a estatura e a composição corporal (2).
No futsal, apesar das poucas informações disponíveis na literatura, os menores valores de gordura corporal podem favorecer o rendimento máximo, visto que a movimentação durante as partidas é extremamente intensa, com alta exigência energética. Assim, a massa corporal excedente, provocada pelo maior acúmulo de tecido adiposo, denominada de massa corporal inativa, acarretará maior dispêndio energético, dificultando sobremaneira o processo de recuperação pós-esforço, visto que na perspectiva do esporte de alto rendimento os períodos destinados à recuperação ao estresse gerado pelas situações de treinamento ou competição dificilmente atendem as reais necessidades do organismo do atleta, devido particularmente ao calendário esportivo extenuante.
A resistência muscular, a força/potência de membros inferiores, a agilidade e a flexibilidade são capacidades físicas consideradas essenciais para a prática do futsal (4).
Nesse sentido, MOLINUEVO & ORTEGA (11) e SANTOS et al. (14) encontraram resultados considerados expressivos em testes motores que envolviam indicadores de força/potência de membros inferiores, força/resistência abdominal e agilidade, em estudos sobre o perfil de aptidão física geral de atletas de futsal espanhóis e brasileiros, respectivamente, o que possivelmente possa ser atribuído às exigências específicas dessa modalidade.
Como o treinamento específico de uma determinada modalidade esportiva pode resultar em diferentes adaptações, de acordo com os estímulos empregados, o propósito do presente estudo foi analisar os efeitos do treinamento específico de futsal sobre a composição corporal e alguns indicadores de desempenho motor em jovens atletas dessa modalidade.
Indivíduos e métodos
Sujeitos
Oito atletas de futsal, do sexo masculino, categoria juvenil (16,87 ± 0,83 anos), pertencentes a uma das equipes participantes do campeonato paulista de futsal participaram deste estudo. Outros onze meninos (15,57 ± 1,31 anos), não praticantes de nenhuma modalidade esportiva ou de qualquer outro programa sistematizado de exercícios físicos, compuseram o grupo controle.
Programa de treinamento
Os atletas foram submetidos a um período de treinamento específico de futsal com duração de 24 semanas (três sessões semanais, em dias alternados, com duração de aproximadamente 150 minutos por sessão). As sessões de treinamento envolviam atividades técnicas, táticas e físicas. A freqüência às sessões de treinamento foi superior a noventa por cento (65 a 70 sessões). Vale ressaltar que os atletas envolvidos no presente estudo não participaram durante o período experimental de nenhum outro programa de exercícios físicos nem praticaram outra modalidade esportiva.
Durante o período experimental, todos os finais de semana (sábado ou domingo), os atletas participaram de partidas oficiais (campeonato paulista) ou amistosas.
Por outro lado, o grupo controle não realizou nenhum programa sistematizado de exercícios físicos durante o período de duração do estudo.
Antropometria
A massa corporal foi mensurada utilizando-se uma balança eletrônica Filizolla, com precisão de 0,1 kg, e a estatura foi determinada em um estadiômetro de madeira, com precisão de 0,1 cm, de acordo com os procedimentos descritos por GORDON et al. (8). O índice de massa corporal (IMC) foi calculado mediante a relação entre massa corporal e estatura, sendo a massa corporal expressa em quilogramas e a estatura em metros.
A composição corporal foi avaliada por meio da técnica de espessura do tecido celular subcutâneo. Para tanto, duas dobras cutâneas (subescapular e tricipital) foram medidas por um único avaliador com um adipômetro Lange (Cambridge Scientific Industries, Inc., Cambridge, Maryland), de acordo com os métodos e recomendações de SLAUGHTER et al. (16). Três medidas foram tomadas em cada ponto, em seqüência rotacional, do lado direito do corpo, sendo registrado o valor mediano. O coeficiente teste-reteste excedeu 0,98 para cada um dos pontos anatômicos com erro de medida de no máximo ± 1,0 mm.
A partir das medidas de dobras cutâneas a quantidade de gordura corporal relativa (% gordura) foi estimada mediante o uso das equações propostas por SLAUGHTER et al. (15).
Desempenho motor
O teste abdominal modificado (FAB) foi utilizado como indicador de força/resistência muscular (17). O número máximo de repetições executadas corretamente durante 1 minuto foi registrado.
Os testes impulsão vertical com auxílio dos membros superiores (IVC) e impulsão horizontal (IH) foram empregados como indicadores de força/potência muscular (17). Cada sujeito realizou três tentativas em cada um dos testes. O maior valor obtido em cada teste foi registrado.
Como indicador dos níveis de flexibilidade foi utilizado o teste sentar-e-alcançar no banco de Wells (1). Cada indivíduo realizou três tentativas separadas por aproximadamente 30 segundos, sendo registrado o maior dos valores obtidos.
O teste shuttle run (SR) foi empregado como indicador de agilidade (18). Duas tentativas foram executadas por cada sujeito, com aproximadamente cinco minutos de intervalo entre elas, sendo registrado o menor tempo gasto para a realização do teste.
Todos os testes, bem como as medidas antropométricas foram realizadas nos dois momentos do estudo (na semana anterior e na semana seguinte as 24 semanas de treinamento empregadas para análise).
Tratamento estatístico
Análise descritiva e estatística inferencial de todos os dados foram conduzidas no pacote STATISTICATM. Para a avaliação das mudanças que ocorreram entre os períodos pré e pós-experimento dentro de cada grupo o teste t de Student para amostras dependentes foi empregado. As variações percentuais observadas entre os dois períodos em cada grupo foram contrastadas entre os grupos (treinamento e controle) pelo teste t de Student para amostras independentes e pareadas. O nível de significância adotado para todas as comparações foi de p<0,05. Resultados Os resultados obtidos nas avaliações realizadas nos períodos pré e pós-experimento para ambos os grupos são apresentados nas Tabelas 1 e 2. As modificações ocorridas entre esses dois momentos são expressas em valores percentuais (D%). O comportamento das variáveis antropométricas e dos indicadores da composição corporal são apresentados na Tabela 1. Apesar dos resultados revelarem um aumento na massa corporal, estatura e índice de massa corporal (IMC) em ambos os grupos, as modificações não foram significantes (p>0,05). O percentual de gordura diminuiu somente no grupo treinamento (8,23%), todavia sem significância estatística. O grupo treinamento obteve ainda um aumento significante na massa magra (p<0,05), ao passo que as modificações no grupo controle não foram significantes. Vale ressaltar que nenhuma diferença estatisticamente significante entre os grupos que pudesse ser atribuída ao período de treinamento (24 semanas) foi observada nessas variáveis. Tabela 1: Comportamento das variáveis antropométricas e dos indicadores da composição corporal antes e após 24 semanas com e sem treinamento físico Grupo treino Grupo controle Pré Pós D1% Pré Pós D2% Massa corporal (kg) 66,81 ± 7,65 68,57 ± 7,65 2,66 ± 1,34 62,23 ± 10,89 63,88 ± 11,22 2,64 ± 1,84 Estatura (cm) 174,74 ± 5,60 176,32 ± 4,98 0,91 ± 0,55 170,20 ± 7,20 171,48 ± 7,19 0,56 ± 0,35 IMC kg/m2 21,89 ± 2,46 22,05 ± 2,36 0,80 ± 1,36 21,28 ± 2,75 21,60 ± 2,83 1,50 ± 1,82 Gordura (%) 17,88 ± 7,86 15,82 ± 6,84 -8,23 ± 16,57 19,68 ± 7,41 19,92 ± 7,41 0,47 ± 12,5 Massa gorda (kg) 12,42 ± 6,52 11,23 ± 5,94 -5,91 ± 16,43 12,93 ± 7,07 13,10 ± 7,21 2,26 ± 13,8 Massa magra (kg) 54,38 ± 2,75 57,33 ± 3,81 2,66 ± 1,34* 49,29 ± 4,21 50,78 ± 5,17 3,00 ± 2,60 Nota: Nenhuma diferença significante entre os grupos do pré ao pós-experimento (p>0,05)
* Efeito significante dentro do grupo do pré- ao pós-experimento (p<0,05) A Tabela 2 apresenta os resultados dos testes utilizados como indicadores de desempenho motor. O grupo treinamento melhorou o desempenho motor em todos os testes empregados; contudo as modificações foram significantes somente no SR (6%). Por outro lado, um leve declínio no desempenho motor nos testes IH e SR foi observado no grupo controle, embora sem significância estatística (p>0,05). Essas alterações resultaram em diferenças significantes entre os grupos nesses dois testes (p<0,05).
Tabela 2: Comportamento dos indicadores de desempenho motor antes e após 24 semanas com e sem treinamento físico
Grupo treino
Grupo controle
Pré
Pós
D1%
Pré
Pós
D2%
IVC (cm)
42,28 ± 12,56
48,42 ± 8,24
21,73 ± 35,14
40,46 ± 6,33
41,23 ± 6,19
2,94 ± 14,8
IH ** (cm)
212,85 ± 11,3
221,28 ± 9,46
4,01 ± 1,53
202,38 ± 21,7
195,02 ± 24,0
-3,7 ± 4,67
FAB (reps.)
53,85 ± 7,90
58,14 ± 12,01
7,28 ± 7,97
32,69 ± 8,05
36,15 ± 8,06
14,4 ± 33,5
AS (cm)
27,34 ± 7,86
29,42 ± 7,56
8,92 ± 9,88
26,61 ± 6,35
27,63 ± 6,88
8,53 ± 13,5
SR ** (s)
9,61 ± 0,33
9,03 ± 0,43
-5,88 ± 5,55*
10,65 ± 0,69
10,84 ± 0,74
1,87 ± 4,86
Nota: * Efeito significante dentro do grupo do pré ao pós-experimento (p<0,05)
** Efeito significante entre os grupos do pré ao pós-experimento (p<0,05)
Discussão
O treinamento físico pode provocar importantes modificações nos parâmetros de composição corporal, sobretudo na gordura corporal e na massa magra, sendo assim um importante fator na regulação e na manutenção da massa corporal (2). Se, por um lado, os efeitos anabólicos do treinamento físico induzem a um aumento na massa magra, por outro, a gordura corporal relativa tende a sofrer redução (3).
Os resultados observados no presente estudo, antes e após o período experimental, revelaram pequenas modificações nas variáveis antropométricas e nos indicadores da composição corporal. Apesar disso, a tendência de queda nos níveis de adiposidade verificada no grupo experimental não se confirmou no grupo controle.
Portanto, o comportamento observado em ambos os grupos indica que, possivelmente, em um período maior de investigação essas modificações possam ser traduzidas, de forma estatisticamente significante, como um efeito positivo do treinamento e, por conseqüência, como um efeito deletério da falta de atividade física sistematizada.
A princípio a magnitude das modificações nos parâmetros de composição corporal parece ser dependente da intensidade e duração dos esforços físicos (5,12). Assim, aparentemente, o treinamento de futsal empregado teve pouca influência nos parâmetros estudados.
Entretanto, vale destacar que nem sempre as modificações ocorrem de forma tão sensível, fundamentalmente em razão das adaptações metabólicas geradas durante o processo de treinamento (20). Nesse sentido, um fator adicional que não pode ser desprezado é a possível interferência dos processos de evolução biológica que aparentemente se mostraram efetivos no presente estudo, principalmente no grupo controle.
Em estudos realizados sobre os perfis de aptidão física geral de atletas de futsal espanhóis e brasileiros, MOLINUEVO & ORTEGA (11) e SANTOS et al. (14), respectivamente, constataram que atletas de futsal possuem altos valores de força de membros inferiores e agilidade, além de força/resistência abdominal, provavelmente pelas exigências específicas dos movimentos desempenhados durante as partidas.
Com relação aos indicadores de desempenho motor utilizados neste estudo observou-se melhora significativa nos percentuais de evolução nos testes utilizados como indicadores de força de membros inferiores (IH) e agilidade (SR) no grupo de atletas de futsal após as 24 semanas de treinamento. BELLO JR. (4), após analisar os escores-z de atletas de futsal nos testes de impulsão, afirma que a coordenação motora de braços e pernas é de fundamental importância, nos movimentos específicos empregados no futsal.
O aumento da massa muscular resulta, possivelmente, em um maior desenvolvimento da resistência e da força muscular (10). Desse modo, alguns pesquisadores têm conseguido demonstrar algumas modificações morfológicas e bioquímicas que se processam na musculatura esquelética em resposta ao treinamento físico (7,9,10). Via de regra, o treinamento provoca uma hipertrofia nos grupos musculares diretamente envolvidos com o esforço, evidenciando o conceito de especificidade do treinamento. Todavia, os níveis de hipertrofia variam em razão da intensidade do estímulo gerado (2).
No presente estudo o aumento da força/potência de membros inferiores, demonstrado no teste IH, e da agilidade (SR) parece não ter sido influenciado pelo acréscimo de massa magra decorrente do treinamento.
Estudos realizados por CLARKE (6) apontam que rapazes mais avançados em seu estado de maturação biológica têm apresentado resultados superiores em comparação com os menos maturados em diversas tarefas motoras, particularmente naquelas que envolvem força e potência muscular. Desse modo, apesar de não poder ser
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Efeitos do treinamento de futsal sobre a composição corporal e o desempenho motor de jovens atletas
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